Thursday, April 21, 2011

O Livro

Ele vinha sozinho.
De livro do género mistério/policial na mão, cujo título acabei por me esquecer, cigarro entre os dedos..
Olhou em volta, fez o pedido..e mergulhou na leitura.
Senti-me, por minutos, tentada a sentar-me na sua mesa, a ouvir frases do livro, queria ouvir na voz dele a sua história, sob o risco de parecer maluca..
.
Não me lembro que conversa estaria a ter com os meus botões naquele fim de manhã no sítio de costume.
Não me lembro de o ver puxar uma cadeira e sentar-se na mesa bem de fronte da minha, mesmo na minha mira.

Não me lembro de o ver a olhar para mim com curiosidade, dos seus olhos verdes estonteantes, da sua barba por fazer e dos fios do cabelo aloirado, que ele insistentemente prendia atrás da orelha.

Tão pouco me recordo dos seus lábios finos, interessantes.
Por minutos (e apesar de para ele olhar fixamente), fiquei cega e quase alheia à sua beleza ridícula, ridiculamente imponente, que só vim a reparar uma semana depois, quando fomos formalmente apresentados, no mesmo sítio, no sítio de costume.

Quase não o reconheci. Mas ele reconheceu-me a mim (afinal, não é todos os dias que o charme de um homem bonito escapa aos olhos femininos)
.
Focara-me no detalhe do livro e na carga simbólica que este trazia, foquei-me na sua história, e na de quem o lia, algo mais intríseco.

Faz sentido ? não sei..

se calhar devo mesmo trocar as lentes.

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